7 de novembro 2025
O som das sirenes e o ritmo acelerado das emergências deram lugar, aos poucos, às câmeras e roteiros de gravação. Essa é a nova realidade de Daniel Oliveira, conhecido em Extrema como Daniel da Ambulância. Condutor socorrista, auxiliar técnico de enfermagem e agora também ator, Daniel contou sua trajetória em entrevista à Rádio Portal FM, durante o mês da Consciência Negra.
Natural de Extrema, Daniel cresceu no bairro Bela Vista e sempre teve vocação para o cuidado. Em 1999, mudou-se para São Paulo, onde concluiu o curso de auxiliar técnico de enfermagem e passou a trabalhar em importantes hospitais da capital paulista, como o Nove de Julho e o Renascença. Em 2013, prestou concurso para o SAMU do Sul de Minas e, em 2015, participou da inauguração do serviço em Extrema — um momento que ele recorda com emoção: “Eu peguei a chave da viatura das mãos do governador Pimentel. Foi uma conquista muito grande para a cidade e para todos nós da saúde”, relembra.
Durante a pandemia da Covid-19, Daniel esteve na linha de frente. Viu de perto o sofrimento de pacientes e famílias, enfrentou a ansiedade e a perda de amigos e colegas. Foi nesse momento que a arte surgiu como válvula de escape. “Eu entrei em depressão. A arte me salvou. Ela foi meu respiro no meio de tanta dor”, contou. O socorrista participou do projeto Pós-Covid, idealizado pelo médico Fabrício Bergamin, que ofereceu tratamento gratuito para pessoas com sequelas da doença. Mesmo com a rotina intensa, Daniel manteve vivo o sonho de atuar.
Entre 2011 e 2018, ele fez cursos livres de teatro e audiovisual. Em 2021, tirou o DRT de ator, documento que o reconhece oficialmente como profissional da área. A partir daí, veio a coragem de buscar espaço no mercado. “Eu mandei mensagem para o Marcos Junqueira, o Kikito, do filme Cidade de Deus. Ele me convidou pra uma gravação no Morro do Vidigal. Peguei o ônibus de madrugada, fui pra lá e a coisa aconteceu”, lembra com entusiasmo.
Sua primeira atuação foi como figurante, um “soldado do crime” em uma produção independente. A partir dessa experiência, vieram novos convites, contatos e oportunidades. Daniel passou a integrar produções da AfroReggae e da Globoplay, além de se aproximar de nomes consagrados do cinema e da televisão, como Seu Jorge, Babu Santana, Jonathan Azevedo e Lázaro Ramos.
Com o tempo, Daniel acumulou participações em séries e novelas de destaque, como “Arcanjo Renegado”, “Garota do Momento”, “Dona de Mim” e, mais recentemente, “Três Graças”, da Rede Globo, no horário nobre. “Sou elenco de apoio, mas pra mim é uma grande conquista. Estar ali, contracenando com atores como Murilo Benício e Grazi Massafera, é uma honra. Cada cena é um aprendizado”, afirma.
Além das produções televisivas, Daniel também participou de eventos culturais importantes, como a Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP), onde dividiu mesa com Fernanda Montenegro, Lázaro Ramos e Mariana Ximenes.
Durante a entrevista, Daniel destacou o orgulho de representar sua origem e a importância da representatividade negra nas artes: “Eu sou um homem preto, alto, careca, e sei que muitas vezes somos vistos só como bandidos ou policiais nas telas. Mas isso está mudando. Hoje vemos atores pretos em papéis de destaque, e isso abre portas para todos nós.”
Com uma trajetória marcada pela superação e pela coragem de recomeçar, Daniel Oliveira é hoje exemplo de que sonhos podem coexistir com a realidade — e que é possível salvar vidas tanto com as mãos quanto com a arte. “Ser ator é transformar a realidade em ficção. E foi isso que me salvou. A arte me curou”, finaliza.