
29 de julho 2025
Especialista em saúde mental alerta para o adoecimento emocional no ambiente corporativo e destaca a importância do acolhimento nas empresas
A médica especialista em psiquiatria e saúde mental, Ingrid Villela, foi a convidada do programa Elas, apresentado por Luana Gasparetto, Andressa Ramos e Silvinha Brasil, para discutir um dos temas mais urgentes da atualidade: a crise da saúde mental no ambiente de trabalho. Com um olhar técnico e humano, a especialista destacou os impactos dos transtornos emocionais nas relações profissionais e sociais, e a necessidade urgente de políticas mais efetivas de cuidado dentro das empresas.
Adoecimento silencioso e alarmante
Em 2024, mais de 472 mil brasileiros foram afastados do trabalho por transtornos mentais como ansiedade e depressão — um aumento de 68% em relação ao ano anterior. Dra. Ingrid chamou atenção para esse dado: “Esses números são um alerta, mas também um pedido de socorro. As pessoas já sofriam antes, mas agora elas têm mais voz. Por outro lado, é triste ver o quanto a cultura da produtividade a qualquer custo tem nos adoecido.”
Segundo a médica, a pandemia escancarou e agravou esse cenário. “A pandemia foi um sofrimento coletivo, não só de perdas familiares, mas também de sonhos, empregos, estabilidade. Muitos ainda não conseguiram se recuperar emocionalmente”, explicou.
Ambientes hostis e sobrecarga feminina
Durante o programa, a especialista reforçou que o trabalho deixou de ser apenas uma função e passou a dominar a vida das pessoas, principalmente quando aliado a metas inatingíveis, ausência de escuta e ambientes tóxicos. “Muitos profissionais adoecem porque não podem expressar o que sentem sem medo de parecerem fracos ou perderem o emprego.”
A sobrecarga feminina também foi tema central. Segundo a doutora, 65% dos afastamentos por transtornos mentais foram de mulheres. “A mulher precisa dar conta de tudo: casa, filhos, trabalho, aparência, produtividade. Isso gera uma sobrecarga emocional enorme que, muitas vezes, é mascarada até atingir níveis críticos.”
Burnout: o limite do esgotamento
Dra. Ingrid explicou ainda as diferenças entre ansiedade, depressão e burnout, destacando este último como uma condição diretamente relacionada ao ambiente de trabalho. “O burnout é um esgotamento emocional. A pessoa sente angústia só de pensar no trabalho. Em casos mais graves, há paralisações físicas e mentais.”
Ela alertou que o diagnóstico deve considerar o impacto no dia a dia do paciente: “Enquanto o estresse é pontual, o burnout é persistente e causa prejuízo físico e psicológico. É um sinal claro de que algo precisa mudar.”
O papel das empresas e da nova NR-1
Com a atualização da Norma Regulamentadora 1 (NR-1), os transtornos mentais passam a ser reconhecidos como doenças ocupacionais. Dra. Ingrid celebrou a conquista, mas ponderou: “Ainda está muito na teoria. Na prática, poucas empresas investem em canais de escuta, programas de prevenção ou acolhimento emocional.”
Ela defende que as corporações passem a valorizar o bem-estar de seus colaboradores como estratégia de produtividade e redução de afastamentos. “Não é mimo, é prevenção. Funcionário bem cuidado adoece menos e produz mais.”
Autocuidado como chave de prevenção
Ao final do programa, a médica reforçou a importância do autocuidado, especialmente entre as mulheres: “Estamos acostumadas a cuidar de todos e nos deixar por último. Mas precisamos parar, olhar para dentro e perguntar: o que tenho feito por mim?”
Ela também desmistificou o uso de medicações psiquiátricas e encorajou os ouvintes a procurarem ajuda especializada sem medo: “Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo. Sofrimento emocional não é fraqueza.”