Consumo de ultraprocessados cresce e já representa quase um quarto da dieta dos brasileiros

19 de novembro 2025

O consumo de alimentos ultraprocessados no Brasil mais que dobrou desde a década de 1980, passando de 10% para 23% da alimentação diária. Os dados fazem parte de uma série de artigos publicados por mais de 40 pesquisadores internacionais, liderados por especialistas da Universidade de São Paulo (USP), que analisaram hábitos alimentares em 93 países.

O levantamento aponta que o aumento no consumo desses produtos é um fenômeno global. Em quase todos os países analisados houve crescimento, com exceção do Reino Unido, onde o índice permaneceu estável em 50%. Os Estados Unidos lideram o ranking, com mais de 60% da dieta composta por ultraprocessados. Em outras regiões, o avanço também chama atenção: Espanha e Coreia do Sul praticamente triplicaram o consumo em 30 anos, enquanto China e Argentina tiveram elevação significativa nas últimas décadas.

Segundo os pesquisadores, o aumento está relacionado a mudanças culturais, econômicas e ao impacto de grandes corporações do setor alimentício, que ampliam seus produtos por meio de marketing agressivo e preços competitivos. O resultado é a substituição gradual de alimentos tradicionais por produtos industrializados de baixa qualidade nutricional.

Os estudos destacam que dietas ricas em ultraprocessados estão associadas ao consumo excessivo de calorias, maior exposição a aditivos químicos e risco aumentado de doenças crônicas, como obesidade, diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares. Entre mais de 100 pesquisas revisadas, a maioria apontou associação direta entre o consumo desses produtos e o desenvolvimento de enfermidades graves.

Para enfrentar o problema, pesquisadores defendem medidas como rotulagem mais clara sobre aditivos, restrições de venda em escolas e hospitais, controle da publicidade — especialmente para crianças — e políticas que ampliem o acesso a alimentos frescos. Iniciativas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que prioriza alimentos in natura, são citadas como exemplos positivos.

Os ultraprocessados englobam produtos altamente industrializados, formulados com ingredientes baratos, aditivos e aromatizantes, como refrigerantes, macarrão instantâneo, biscoitos recheados e iogurtes saborizados. Especialistas alertam que, apesar da praticidade, o impacto cumulativo desses alimentos na saúde pública é expressivo e exige ações coordenadas para reverter a tendência atual.