Casos de vício em apostas disparam no SUS e acendem alerta no Ministério da Saúde

10 de junho 2025

Em cinco anos, atendimentos ambulatoriais relacionados a jogos cresceram mais de 1.000%; ministro Padilha cobra ação urgente e alerta para impacto na saúde pública


O número de atendimentos relacionados ao vício em jogos de aposta disparou no Sistema Único de Saúde (SUS), acendendo um sinal de alerta no Ministério da Saúde. De acordo com dados oficiais, os registros de transtornos ligados a jogos subiram de 111 em 2018 para 1.292 em 2023 — um aumento superior a 1.000% em cinco anos.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), avalia que o país enfrenta um problema grave de saúde pública e defende que as apostas online recebam regulamentação semelhante à aplicada ao cigarro. Para ele, o crescimento dos casos no SUS não reflete ainda toda a dimensão da crise.

Alta no número de atendimentos

O SUS tem registrado crescentes demandas por atendimento ambulatorial relacionado a transtornos de jogos, especialmente em razão do crescimento explosivo de apostas digitais, como as bets esportivas e o popular “jogo do tigrinho”.

“É um tema grave e contemporâneo. Tenho conversado com psiquiatras que atendem esses casos, empresas que estão vivendo a situação dos seus trabalhadores nesse vício”, afirmou Padilha, ressaltando a urgência de medidas coordenadas para prevenção e tratamento.

Relatório do TCU aponta falhas

Em relatório publicado em maio, o Tribunal de Contas da União (TCU) reforçou a preocupação. O documento aponta que o número atual de atendimentos ainda subestima a real dimensão do problema. “As iniciativas de detecção precoce de casos de dependência são escassas”, diz o texto.

O TCU também apontou a falta de articulação entre os ministérios e criticou a ausência de campanhas educativas, mecanismos de restrição ao acesso infantojuvenil e indicadores claros sobre o impacto do vício no sistema público de saúde.

Ministério da Saúde quer ação direta das plataformas

Padilha defende que as próprias plataformas de apostas sejam responsabilizadas por mecanismos de alerta e acolhimento, oferecendo contato direto com profissionais de saúde. “A gente pode dar um passo além do cigarro, que é na própria plataforma ter mecanismos de acolhimento, de atendimento com profissional, disparar isso quando o apostador está há muito tempo na plataforma”, explicou o ministro.

Ele também anunciou que o Ministério da Saúde vai ofertar cursos de capacitação para profissionais da rede pública que atendem casos de dependência em jogos, embora ainda não tenha definido uma data para início das formações.

Grupo interministerial para combate ao vício

No fim de 2023, o governo federal criou um grupo de trabalho interministerial para propor ações integradas de prevenção e cuidado em saúde mental relacionadas ao jogo problemático. Participam da iniciativa os ministérios da Saúde, da Fazenda e a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom).

Apesar da criação do grupo, o TCU afirma que ainda falta uma articulação efetiva entre os órgãos. Para Padilha, o avanço da regulamentação depende da colaboração com a Fazenda, comandada por Fernando Haddad, e com a mobilização de toda a estrutura de saúde pública.

“Hoje não existe um cálculo preciso do impacto financeiro das apostas no SUS. Vai começar na medida em que a situação cresce. A gente vê isso a partir de algumas experiências internacionais”, finalizou o ministro.