Ala de caminhoneiros ameaça greve nacional nesta quinta-feira

4 de dezembro 2025

Uma ala de caminhoneiros, liderada pela União Brasileira dos Caminhoneiros (UBC), ameaça iniciar uma greve em todo o país nesta quinta-feira (4). A mobilização, segundo a entidade, pode ter adesão inicial de cerca de 20% dos 1,2 milhão de caminhoneiros autônomos do Brasil. Apesar disso, a maior parte das representações da categoria afirma não apoiar o movimento e demonstra preocupação com um possível uso político da paralisação.

A UBC afirma que o movimento é legítimo e baseado em demandas históricas dos caminhoneiros. Francisco Burgardt, conhecido como Chicão Caminhoneiro, representante da entidade, destacou que o grupo estruturou embasamento jurídico para garantir a legalidade da mobilização. Ele também afirma que não há relação com a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro nem com pedidos de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro.

Contudo, outras entidades importantes, como a Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL), rejeitam apoiar a paralisação. As organizações alegam que a pauta do movimento pode abrir espaço para demandas políticas e que os caminhoneiros não devem ser usados como “massa de manobra”.

A UBC entregou nesta terça-feira (3) uma petição ao governo federal com 18 demandas da categoria. Entre os principais pontos estão:

  • Estabilidade contratual para caminhoneiros autônomos

  • Revisão do Marco Regulatório do Transporte Rodoviário de Cargas

  • Atualização da tabela do piso mínimo do frete, especialmente para veículos de nove eixos

  • Congelamento de dívidas dos caminhoneiros por 12 meses

  • Aposentadoria especial após 25 anos de atividade

  • Isenção da pesagem por eixo

  • Linha de crédito de até R$ 200 mil

  • Destinação de 30% das cargas das estatais para caminhoneiros autônomos

Outro pedido é a regularização administrativa de motoristas autônomos envolvidos em mobilizações anteriores. A UBC solicita uma resposta oficial às reivindicações ainda nesta quinta-feira, antes do início da paralisação nacional.

Questionado sobre uma possível motivação política, Chicão reiterou que a mobilização é estritamente voltada à defesa do setor de transportes. Ele afirma que o único pedido relacionado a “anistia” trata de sanções aplicadas a caminhoneiros em greves passadas — incluindo processos financeiros e contas bloqueadas.

Já lideranças de outras entidades, como Wallace Landim, o Chorão (Abrava), alertam que grupos políticos podem tentar usar a paralisação para impulsionar pautas relacionadas aos atos de 8 de janeiro. Segundo Chorão, há um “movimento velado” tentando atrair caminhoneiros para protestos de natureza político-partidária, e a orientação da Abrava é que motoristas não participem.

A CNTTL tem a mesma posição. Para o diretor Carlos Litti, embora existam reivindicações legítimas na pauta da UBC, o movimento perde credibilidade por incluir pedidos de caráter político. Ele reforça que a confederação não apoiará paralisações motivadas por disputas partidárias.

Mesmo sem adesão formal das principais entidades, lideranças regionais podem realizar mobilizações locais. O setor de transportes é historicamente sensível a pautas políticas e foi um dos segmentos que mais apoiou Bolsonaro nas eleições de 2018.

Em julho, um movimento pró-Bolsonaro articulado pela oposição tentou impulsionar uma nova mobilização de caminhoneiros, mas a ação não ganhou força e acabou esvaziada.

Com o cenário dividido, ainda não há clareza sobre a abrangência da paralisação anunciada pela UBC. O governo acompanha o caso, enquanto entidades majoritárias da categoria orientam motoristas a não aderir ao movimento para evitar riscos e prejuízos.

A expectativa é que, ao longo do dia, se confirmem possíveis pontos de bloqueio ou protestos pontuais, caso a mobilização prossiga mesmo sem apoio das principais lideranças do setor.