Falta de regras preocupa no uso de IA em ambiente escolar

26 de novembro 2025

Uma pesquisa divulgada pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic.br), ligado ao NIC.br, revelou um uso cada vez mais intenso e pouco orientado de ferramentas de Inteligência Artificial entre alunos e professores do ensino médio no Brasil. O estudo qualitativo “Inteligência Artificial na Educação: usos, oportunidades e riscos no cenário brasileiro” ouviu estudantes e docentes de escolas públicas e privadas de São Paulo e Pernambuco e mostrou que a tecnologia já está presente no dia a dia escolar, porém de maneira indiscriminada e sem qualquer acompanhamento.

Dados anteriores do TIC Educação já apontavam essa rápida adesão: 70% dos alunos do ensino médio, cerca de 5,2 milhões de jovens, e 58% dos professores utilizam ferramentas de IA generativa em atividades acadêmicas. Segundo a coordenadora da pesquisa, Graziela Castello, esse uso tem ocorrido de forma “quase selvagem”, indo de pesquisas simples à realização completa de tarefas, resumos, lembretes, consultas de saúde e até apoio emocional. Professores também usam IA para preparar aulas, criar materiais e adaptar atividades, mas, assim como os alunos, fazem isso sem orientação sobre como utilizar essas ferramentas de forma segura e ética.

O estudo mostra que, apesar do entusiasmo, alunos e professores reconhecem riscos significativos. Entre eles estão o medo dos estudantes de perderem habilidades de escrita e criatividade, o receio de se tornarem dependentes da tecnologia, a dificuldade de interpretar informações incorretas ou preconceituosas geradas por IA, além da preocupação dos docentes com a queda no desempenho em redação e linguagem. Outro ponto de alerta é o uso da IA como suporte emocional, algo frequente e sem supervisão. Graziela destaca que, diferente da chegada da internet, a Inteligência Artificial “entrou chutando a porta”, incorporada à rotina escolar sem tempo para preparação ou regulamentação.

A pesquisa também expôs diferenças importantes entre estudantes da rede pública e privada, especialmente no acesso à infraestrutura. Alunos de escolas particulares têm maior disponibilidade de computadores, o que facilita o uso avançado da IA, enquanto quem depende apenas do celular enfrenta limitações. Além disso, ferramentas pagas ampliam ainda mais o abismo digital. Para a coordenadora, essa desigualdade pode aprofundar disparidades educacionais caso não seja enfrentada com políticas públicas adequadas.

Os especialistas defendem que o primeiro passo é investir em letramento digital, oferecendo orientações claras sobre o funcionamento das ferramentas, quem controla os dados e como utilizá-las de forma crítica e responsável. Também é urgente criar protocolos, regimentos e normas para orientar o uso da IA nas escolas, capacitar professores e estimular o desenvolvimento do pensamento crítico entre os alunos. Para Graziela Castello, o grande desafio é orientar o uso da tecnologia enquanto ela já está presente no cotidiano: “Vamos ter que trocar a roda do carro com ele andando”, afirmou.