ONU Mulheres propõe repactuação global para garantir igualdade de gênero

1 de julho 2025

Entidade completa 15 anos em 2025 e alerta para retrocessos nos direitos das meninas e mulheres em meio a conflitos, exclusão digital e violência crescente

Com 4 bilhões de meninas e mulheres no mundo, a igualdade de gênero ainda é um desafio global. A ONU Mulheres, agência das Nações Unidas dedicada à pauta, completa 15 anos em 2025 defendendo uma repactuação mundial em defesa dos direitos femininos. Segundo a representante interina da entidade no Brasil, Ana Querino, apesar de avanços, retrocessos são recorrentes, especialmente em cenários de crise. “Direitos das mulheres são como ondas do mar: há retrocesso, mas avanços são persistentes”, afirmou.

Retrocesso global e exclusão digital

Estudo recente da agência mostra que os direitos humanos das mulheres estão ameaçados em um a cada quatro países. A exclusão digital é uma das preocupações crescentes, com milhões de mulheres sem acesso adequado à tecnologia, o que limita oportunidades e potencializa formas de violência online. “Se não temos mulheres por trás do avanço tecnológico, temos a tecnologia reproduzindo a misoginia e a discriminação”, alertou Ana.

Mulheres sob conflito e violência

A ONU Mulheres destaca que 600 milhões de meninas e mulheres vivem atualmente em zonas de conflito — um aumento de 50% em relação à década passada. Os efeitos são devastadores: seis em cada dez mortes maternas ocorrem em países em guerra, e casos de violência sexual são usados como arma de guerra. “Mulheres e meninas são afetadas de forma específica pelas guerras”, ressaltou a representante.

A violência doméstica também segue alarmante: uma mulher ou menina é assassinada a cada dez minutos por um parceiro ou parente próximo. Em 2023, foram 85 mil feminicídios registrados no mundo. A ONU pede leis mais rigorosas, apoio às sobreviventes e tolerância zero à impunidade.

Participação política e econômica desigual

Outro ponto da repactuação é a exigência de paridade nas decisões políticas. A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (Cedaw), com força de lei no Brasil desde 1984, recomenda que mulheres ocupem pelo menos 50% dos cargos de decisão. Hoje, elas representam apenas 17% do Congresso Nacional.

No mercado de trabalho, a desigualdade persiste: mulheres ainda ganham, em média, 20% menos que os homens. A ONU propõe políticas de igualdade salarial e acesso a empregos dignos, especialmente nos setores de cuidado e no enfrentamento às mudanças climáticas, onde a participação feminina ainda é baixa.

15 ações para impedir retrocessos

Para renovar o compromisso global com a igualdade de gênero, a ONU Mulheres apresentou 15 ações prioritárias. Entre elas estão:

  • Proteger os direitos já conquistados;

  • Incluir mulheres na economia e no setor digital;

  • Erradicar a pobreza feminina (uma em cada dez vive com menos de R$ 12 por dia);

  • Combater a fome e a insegurança alimentar;

  • Fortalecer os sistemas legais, políticos e financeiros para apoiar a igualdade.

A entidade também cobra que chefes de Estado, parlamentos, empresas e a sociedade civil assumam um papel ativo na defesa dos direitos femininos. “Precisamos de vozes que reforcem o progresso”, concluiu Ana Querino.